sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Em busca de mim
Achei-me no infinito
Perdida no mundo
Como passas ao vento

Minha infância
Escorreu nas águas
Deixando-me nua
sobre um tronco
Ausente de momentos
Apenas mãos de areia afagam-me
Tenho-me em meus braços
No ventre da escuridão acolhida.

Rosas

As águas fluem
O tempo passa
O azul jorra
Na madrugada.
O que sai do leite
Despeja no mar
E o que me dera?
Ir ou voltar?

Rosas me alisam
O sol esfria
Os olhos dele buscam os meus
Que emergem
Numa sinfonia vagabunda
Imagem maculada
Estrela apagada
Um sorriso, talvez
Um leve piscar
Rosas... e o que me deram?
Ir ou voltar?

sábado, 23 de janeiro de 2010

Meus olhos sangram preces
Como a pérola ilumina o asfalto
Meus dentes se travam
Num sorriso peralto
Meus braços abrem um
Azul em contínuo
Minhas pernas curtas
Fazem pontes entre os muros
Sobre os muros, além deles
Meus pés
Ah, eles assinam
Pegadas quase sagradas
Marcando momentos
Bons ou ruins
Não importa. São.
Eu vou
No contínuo
No absurdo
Na alma da verdade
Na sombra de um sonho
Eu vou
Com ypslon
E dois tês
Eu tenho-me
Eu existo
Alfaias gritam ao teu encontro.
Disfarço-me com um cruzar de pernas sob a saia.
Saiu-me com um sorriso.
Acendo um cigarro.
Num trago,
Sinto tu penetrar-me
Como o eco do violoncelo.

Quieto.
Um conselho, um palpite.
Palpito, pulso.
Educação, educação, educação?
Um trago.
O rasgo da insistência do mesmo acorde de violoncelo.
Meus olhos piscam um grito.
Disfarço com o cruzar de pernas sob a saia
Lá se vão as alfaias.

De repente...

De repente, não mais que de repente

A estrada se explodiu em flores

O palco virou azul

E meus pés em brasa

Saltitaram, criaram asas

Um sorriso

Uma trégua

Da guerra e da cruz

Ir em frente além da luz

Simplesmente ir em frente

Juntos, de mãos dadas

Com os pés em brasa

Asas.

E de repente, não mais que de repente

Num instante entre as explosões furiosas

Que alagavam minha sombra em pétalas

A noite se curvou de frio

E meus pés se fundiram na noite

A noite se derretera

O palco despetalou-se em cinzas

A luz progetou-se em um poste

As asas, em vaga-lume

E o sorriso em guerra e cruz

De repente, não mais que de repente.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Fiquei lá

Quer ser o que foi
e talvez um pouco mais
lembra as épocas
e decora as datas
conta os anos como se obtesse resultados
Cala, fecha os braços, sorri, exclama
e sonha
Sonha
Sonha
Sonha com o que poderia ser
Mas não consegue encontrar a
a fúria em si
Fúria que corrói o peito
Quieto e calado esquece de sentir
conta as bravuras
canta - e conta - as mulheres
os lugares com ar de rei
e olha
e pensa
mas obedece, se encolhe e treme
limitado como a lei
e insiste como a sombra
e olha e pensa
e (quase) sente
deseja, anseia
confunde-se no devaneio de Califa
Mas sabe, lá dentro
que o continente é maior
e na verdade
só tem medo
E volta a sonhar
quem sabe?
Com o que poderia ser
ou ter sido...
Será?

Novembro

E se olharmos para a noite e dela não sair brilho
e das flores não saem cheiro
se as mãos não compõem nota
o silêncio dá lembrança
e o suspiro se vai nos ventos
que balançam as saias.

Que se calam as alfaias
e tudo vira vento
vento negro
negra insensatez
que cacheiam os versos
Nós de tricô se confundem com anéis
de opala e se racham com trovões e espadas.