quinta-feira, 11 de março de 2010

papéis

Quando os dedos grossos do Destino te sugar
Quando Deus disser que te deu e tu nada recebeste
Quando precisares sentir o que é teu
Quando a sensação de chão desaparecer
E resultar em uma enchente em teus olhos
Quando olhares para trás e tua sombra não encontrás
Quando quiseres voar e tuas asas falharem
Quando tiveres vontade de cuspir em teu nome
Quando tua mão perder o tato
Quando tuas pernas perderem os passos
Quando a tarde cair pesada
Quando a aurora surgir cinzenta
Quando teu peito te sufocar, apertando-te toda a existência
Quando um grito surgir mas não soltar
Quando teu pensamento te arranhar
Quando tua des-existência vir abrigar-te inteira
Saiba, amiga,
Descerei do céu – ou de qualquer outro lugar
E guiarei teu barco
Carregar-te-ei gruta adentro em meu colo
Enxugar-te-ei a dor com minhas palavras
E te levarei de volta para casa, ou para qualquer outro lugar
Segura, eninhada
Tranqüilizarei teu silêncio
E beijarei teus gritos
Papel de amigo
Papel de mãe.

Desabafos

Meus braços são fortes de já levantar tantas identidades – tantos pesos. Agora, recolho-me às trevas. Preciso de um pouco de falta de luz para ver se minha sombra volta a mim. Será que ela vem? O jeito é esperar. Tantos quilos de espera. Fecho os olhos. Respiro. O ar que entra é o mesmo que percorre as estradas em busca de… Desliguem os postes. Quebrem as lâmpadas. Quero a escuridão aqui dentro. Quero a suficiente sobra. Desliguem os carros. Façam silêncio. Que ela só voltará na carona de um enigma. Distribuo as identidades que possuo sobre a mesa de pôquer. São cartas pregadoras de ilusões. Talvez vazia; acharei minha identidade fugidia. A saudade se lança em águas tenebrosas. Pesadas como o petróleo. Aquele ouro negro feio e lucrativo. Lucro meu me encontrar. Será? Respiro. Respiro. Em que esquina me esqueci mesmo?